TEATRO EM ESPÓLIOS
4 a 22 de Outubro de 2018
Biblioteca da Faculdade de Letras
Universidade de Lisboa
CICLO DE CONVERSAS NO PORTO
10 de Novembro de 2018, Espaço Campanhã
Entre 4 e 22 de Outubro, estará patente na galeria de exposições da Biblioteca da Faculdade de Letras da UL a mostra TEATRO EM ESPÓLIOS que o Centro de Estudos de Teatro organiza com o Núcleo de Comunicação e Gestão de Atividades Culturais da Biblioteca.
Será acompanhada por um Ciclo de Conversas às segundas feiras de Outubro com o tema Teatro Contemporâneo em Lisboa e no Porto: espaços, acervos, arquivos. Este, com curadoria de Ana Bigotte Vieira e Maria João Brilhante (Lisboa) e do Teatro Experimental do Porto (Porto) e pretexto para a realização de um inventário sobre o estado dos arquivos do teatro recente português, reunirá representantes de companhias de teatro de instituições ou estruturas de produção teatral para um primeiro debate sobre uma questão premente para a história da cultura e do teatro: que fazer com a documentação produzida no âmbito da actividade artística? Este debate estender-se-á de seguida ao Espaço Campanhã, no Porto, no mês de Novembro.
MOSTRA
Desde o início do milénio, a Biblioteca da Faculdade de Letras tem vindo a receber espólios bibliográficos de personalidades ligadas ao teatro português. A riqueza extraordinária das bibliotecas pessoais doadas veio reforçar a pesquisa sobre teatro que se iniciou em 1992 nesta Faculdade, e a formação de largas centenas de alunos até hoje. A primeira biblioteca-arquivo doada pertenceu a Osório Mateus, professor da FLUL, encenador e especialista da obra de Gil Vicente, mas a ela vieram juntar-se as de Mário Barradas, encenador da companhia de teatro CENDREV, de Mário Sério, crítico de teatro e encenador, de Mário Jacques, actor, tradutor e sindicalista e de Luiz Francisco Rebello, historiador de teatro e dramaturgo. Recentemente a Biblioteca recebeu o arquivo do Teatro da Cornucópia e em breve outros arquivos virão ampliar este acervo documental.
Surgiu, por isso, a necessidade de mostrar esses espólios e arquivos através de uma selecção de obras, documentos e registos iconográficos muito variados, que estão disponíveis para consulta (ou irão estar em breve) por estudantes, profissionais do teatro, investigadores de artes, bibliotecários e arquivistas de outras bibliotecas do país e do estrangeiro. Na verdade, interessa-nos contrariar a ideia de que conservados, tratados, e definitivamente arrumados, estes acervos pessoais ficam protegidos, logo inacessíveis aos olhares curiosos. São frágeis e perecíveis, exigem cuidados de manuseamento e daí pedirem para ser protegidos através da sua digitalização. Mas aguardam que chegue quem os visite e oiça o que têm para contar, muitas vezes acerca da vida dos seus proprietários.
A selecção do que se poderia mostrar de entre milhares de documentos e obras seguiu alguns muito simples princípios: ser representativa das principais actividades dos doadores permitindo revelar a quem não os conhece as suas identidade, singularidade e visão do mundo; desvendar o que caracteriza cada espólio e como ele contribui para um amplo conhecimento do teatro (raridade, diversidade das suas espécies); propor ligações entre os doadores e entre os seus respectivos espólios, ajudando desse modo a entender o tempo do teatro que viveram, as possibilidades de cruzamento que nos incitam a fazer.
É, pois, uma selecção aquilo que os organizadores oferecem partindo do seu conhecimento das referidas bibliotecas e dos arquivos. O mais importante será o que os visitantes fizerem com estes espólios, deixando nós desde já o convite para que invadam o Catálogo antes de invadirem as salas da Biblioteca ou a sua zona de Reservados. Esse primeiro passo poderá prefigurar interessantíssimos lugares de pesquisa a desenvolver no presente e no futuro dos estudos de teatro.
FLUL, 1 de Outubro de 2018
CICLO DE CONVERSAS
TEATRO CONTEMPORÂNEO EM LISBOA E NO PORTO:
ESPAÇOS, ACERVOS, ARQUIVOS
Dias 8, 15 e 22 de Outubro de 2018
Biblioteca da Faculdade de Letras
Universidade de Lisboa
Num momento em que o tecido social e urbano de Lisboa e Porto sofre alterações aceleradas motivadas pela especulação e por políticas continuadas de austeridade e em que uma série de companhias e grupos de teatro se têm visto obrigados não só a reduzir actividade como a fechar portas e encerrar espaços, este ciclo de conversas propõe-se a identificar o estado dos espólios do teatro recente partindo da sua articulação estreita com o território da cidade, i. e. os espaços de que as companhias dispõem para conservar (ou não) os seus arquivos.
Início de conversa (ainda a dar os primeiros passos!) fortemente motivado pelo encerramento abrupto da Cornucópia e a recente doação do seu espólio à Biblioteca da FLUL; pelo não financiamento do CCT/TEP e ordem de expulsão da Associação e da Companhia da sua sede em Gaia; e pela proposta de entrega do espólio dos anos de programação do Teatro Maria Matos por Mark Deputter à Biblioteca da FLUL pretende-se escutar as companhias e os artistas para com eles pensar formas de preservar, proteger e promover os seus arquivos e património, dando a conhecer a sua acção, bem como as formas de transmissão que esta suscita.
A cultura portuguesa pós 25 de Abril não seria a mesma sem um conjunto de instituições culturais que, muito embora tenham deixado nela marcas profundíssimas, se veem hoje em risco de persistir apenas na memória dos que delas se recordam. Sem meios e com os seus arquivos muitas vezes por tratar, rareiam as edições sobre a sua ação, tornando difícil o acesso sistemático à sua atividade. Este ciclo de conversas propõe-se a contribuir para a discussão das transformações culturais ocorridas em Portugal entre os longos Anos 60 e a actualidade, colocando o foco na preservação dos acervos e interrogando cosmopolitismo, dissidência e contracultura, a partir da experiência concreta da cidade e dos seus espaços de encontro e instituições culturais.
Assim, colocando a tónica nos espaços teatrais, procura-se contribuir para uma primeira identificação de um conjunto de espaços (galerias de arte, grupos de teatro, publicações) onde, durante a ditadura, um certo cultivo cosmopolita se cruzava de forma mais ou menos consciente ou explícita com uma dissidência se não política, pelo menos cultural, equacionando continuidades entre a acção desses espaços antes do 25 de Abril e a acção de outros espaços, ditos ou não alternativos, no tempo que se lhe sucede.
Trata-se portanto de, começando por identificar acervos, arquivos, lugares e formas de transmissão com os seus protagonistas, procurar em conjunto modos de narrar e de tornar acessível a relação entre a actividade das companhias nos seus espaços e a experiência dessa actividade na cidade, pelos seus habitantes, tanto no imediato como na duração. Agora, que a experiência da cidade se encontra em acelerada transformação.
Ana Bigotte Vieira*, Maria João Brilhante e Ana Temudo/TEP
*Ao abrigo de apoio CML/DMC e Gulbenkian Programa Cultura Portuguesa
PROGRAMA
Lisboa
DIA 8 DE OUTUBRO
Átrio da Biblioteca, FLUL
16H00
Teatro da Cornucópia / Teatro Experimental do Porto / Maria Matos Teatro Municipal: o que fazer com estes acervos?
Teatro da Cornucópia
Cristina Reis e Luís Santos
Teatro Experimental do Porto
Gonçalo Amorim
Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa
Pedro Estácio
Teatro Nacional D. Maria II
Cristina Faria
Museu Nacional do Teatro e da Dança
Sofia Patrão
Fundação Calouste Gulbenkian
António Caldeira Pires
Moderadoras: Ana Bigotte Vieira e Maria João Brilhante
DIA 15 DE OUTUBRO
Átrio da Biblioteca, FLUL
16H00
Teatro Independente e seus antecessores
Sociedade Guilherme Cossoul
Catarina Braga
Rui Magno
Cláudio Henriques
O Bando
Juliana Pinho
Teatro A Comuna
João Mota e Carlos Paulo
Novo Grupo de Teatro - Teatro Aberto
Célia Caeiro
Moderadores: Rui Pina Coelho e Ana Bigotte Vieira
DIA 22 DE OUTUBRO
Átrio da Biblioteca, FLUL
16H00
Companhias de Teatro na Lisboa
dos Anos 80 – 90
Cão Solteiro
Paula Sá Nogueira
Mariana Sá Nogueira
Útero
Miguel Moreira
Sensurround
Lígia Soares
Karnart
Luís Castro
Teatro Meridional
Natália Luiza
Meia Preta e FC Produções
Filipe Crawford
Teatro da Garagem
Maria João Vicente
Moderadoras: Maria João Brilhante e Rita Martins
PROGRAMA
Porto
DIA 10 DE NOVEMBRO
Espaço Campanhã
16H00
Um destino para o espólio do TEP;
Teatro Experimental do Porto
Gonçalo Amorim e Laura Castro
Companhias da Fábrica da Rua da Alegria - Uma Memória Colectiva
(participantes a confirmar)
Moderadora: Ana Temudo
SESSÕES DE CINEMA
DIA 9 DE OUTUBRO
Sala 5.2, FLUL
10H00-12H00
A Missão de Heiner Muller
Espectáculo do Teatro da Cornucópia, encenação de Luís Miguel Cintra e Cristina Reis, 1984.
DIA 19 DE OUTUBRO
Sala 5.2, FLUL
17H00-19H00
O Triunfo do Inverno, de Gil Vicente
Encenação de Luís Miguel Cintra,
Cenografia de Cristina Reis, 1995.
SEMINÁRIO COM JACOPO GALIMBERTI
(Manchester University)
DIA 13 DE OUTUBRO
Atelier-Museu Júlio Pomar
16H30
Seminário com o Historiador da Arte Jacopo Galimberti (Manchester University), autor de Individuals against Individualism: Art Collectives in Western Europe (1956-1969) com moderação: André Silveira, IHA e curadoria de Ana Bigotte Vieira, IHC/ CET
O autor propõe um olhar pela História da Arte a partir da acção não da figura do artista genial mas da acção colectiva e da experiência urbana. Sendo a primeira publicação a examinar em detalhe o fenómeno das práticas colectivas de arte na Europa Ocidental de finais da década de 1950 a finais da década de 1960, este livro elabora uma perspectiva comparada, devedora de uma história cultural da arte atenta a ideias políticas e aos conflitos geopolíticos que então se faziam sentir. Em parte por actuarem em centros menores da arte como Valência, Pádua, Corbova, Berlim Ocidental e Munique. grupos de artistas e activistas como Equipo 57, Equipo Cronica, Equipo Realidad, N, GRAV, Spur, Geflecht ou Kommune I têm sido frequentemente negligenciados nos meios anglo-saxónicos e no entanto os seus debates, trabalhos e redes intelectuais oferecem uma nova luz quer à produção artística da Guerra Fria quer ao recente interesse pelas práticas colaborativas e participativas que se tem vindo a fazer sentir no mundo da arte desde 2000. Individuals against Individualism conta as histórias destes artistas e activistas, sublinhando as suas tentativas de dar corpo e representar formas de igualitarismo capazes de se opor tanto ao autoritarismo do Bloco de Leste como ao ethos do mundo livre Ocidental. Discutindo estratégias como o uso político da autoria colectiva, a resistência à cooptação institucional e o ataque à ideologia da liberdade sob o pano de fundo da Guerra Fria, este livro consegue ainda assim ressoar fortemente no presente.
Biografias
JACOPO GALIMBERTI é investigador de pós doutoramento na Universidade de Manchester com uma bolsa da British Academy. A sua investigação tem incidido sobre a arte do pós II Grande Guerra na Europa Ocidental. Encontra-se presentemente a escrever um livro sobre operaísmo, autonomia e artes visuais. Tem publicado em revistas como Art History, The Oxford Art Journal e Grey Room. É autor de Individuals against Individualism. Western European Art Collectives (1956-1969) pela Liverpool University Press.
ANDRÉ SILVEIRA é licenciado em História da Arte, pós-graduado em História da Arte Contemporânea pela FCSH-UNL e doutorando em Teoria da Arte na mesma instituição, foi bolseiro FCT e é membro do IHA. Autor do volume dedicado a Almada Negreiros na Colecção Pintores Portugueses, trabalhou com a revista L+Arte no âmbito da Secção Arquivo e com o Centro de Arte Moderna da Fundação Calouste Gulbenkian, com a Culturgest e com o Atelier-Museu Júlio Pomar na investigação sobre obras que integram as respectivas colecções. Integrou a equipa de investigação da exposição conjunta da Culturgest e do Museu do Neo-Realismo A Doce e Ácida Incisão, a Gravura em contexto (1956–2004) e, mais recentemente, realizou a pesquisa em colecções municipais para o ciclo de exposições Palácio de Espanto, Casa de Espanto e Quarto de Espanto, co-organizadas pela Culturgest.
Organização do seminário:
Instituto de História Contemporânea, FCSH- UNL
Centro de Estudos de Teatro, UL
Apoio:
CML/DMC,
Fundação Calouste Gulbenkian – Programa Língua e Cultura Contemporânea
Organização
Comissão organizadora:
Centro de Estudos de Teatro
Ana Bigotte Vieira
Cosimo Chiarelli
Filipe Figueiredo
Joana Azinheira
Maria joão Almeida
Maria João Brilhante
Marta Rosa
Rita Martins
Rui Pina Coelho
Sebastiana Fadda
Tatiana Dinis Ribeiro
Biblioteca FLUL
Isabel Rebolho
Maria João Coutinho
Pedro Coelho
Pedro Estácio
Teatro da Cornucópia
Luís Santos
Teatro Experimental do Porto
Ana Temudo
Gonçalo Amorim
Laura Castro
Núcleo de Documentação da
Reitoria da Universidade de Lisboa
Helena Saramago